Uma lenda quase ultrapassada
Desde tempo imemoriais, quando a criatura mística chamada Dreamcast ainda andava entre nós, samurais, ninjas, piratas e homens musculosos vestindo pele de rinoceronte vêm batalhando pelas duas “Espadas da Alma”: a maligna Soul Edge e sua contraparte, Soul Calibur. Dez anos depois a batalha ainda continua – mais bonita e complexa do que nunca – mas aparentemente esses guerreiros não arrumaram nem um só dia para aperfeiçoar suas técnicas.
Em seu quinto episódio (contando o pioneiro Soul Edge), a série de luta da Bandai Namco manteve intacto o espírito do que fez com que ela conquistasse sua glória: personagens de todos os tamanhos e estilos de luta, com as mais variadas armas, enfrentam-se em cenários 3D bonitos e coloridos. Diferente de parentes 2D, como Samurai Shodown, aqui não basta simplesmente andar e atacar: um incrível balé de passos, esquivas, golpes e agarrões criam um espetáculo rápido e incrível de se assistir. No terreno das lutas armadas, Soul Calibur não tem rivais, e o novo game mantém essa tradição.
Mesmo assim, da mesma maneira que os Kiliks sem criatividade tendem a irritar depois de repetir a mesma seqüência de golpes pela décima vez, tradição demais começa a parecer preguiça depois de duas gerações intocadas. Com uma ou outra exceção, um personagem clássico de Soul Calibur IV luta de maneira idêntica aos capítulos anteriores. Golpes, combos, velocidade, tudo. Não fossem os belíssimos gráficos da nova geração, esse jogo passaria como um simples pacote de expansão de SCIII. Ou II. Ou do primeiro. As batalhas ainda garantem diversão e ótimos desafios, mas a ferrugem dessas espadas já mostra mais abandono do que tradição.
A maior aposta da Bandai Namco aqui é, seguindo a tendência da versão anterior, a possibilidade de personalizar os mais de 30 guerreiros existentes e criar os seus próprios, com uma profundidade de opções invejável. Armas, peças de roupa de chapéu a chinelo, cores de cabelo e de olhos são apenas algumas delas – que alteram não apenas o visual, mas a força, a velocidade e outros atributos dos lutadores. As possibilidades são virtualmente infinitas. Obviamente, nada vem de graça: todos os acessórios extras precisam ser comprados (com dinheiro de mentira), baixados da Internet (com dinheiro de verdade) ou conquistados nos diversos modos de jogo. E é aí que reside algo que, apesar de não ser uma falha propriamente dita, não deixa de fazer o mais durão espadachim franzir a testa.
A impressão dada pelo novo Soul Calibur é a de que todos os outros modos existem apenas para dar suporte ao de Criação. As aventuras do Story Mode, por exemplo, podem terminar em cinco minutos ou menos e parecem ter sido feitas às pressas: diálogos, cenas interativas e finais alternativos de SCIII foram deixados para trás, dando lugar quase que exclusivamente a texto. Jogar duas delas é o suficiente para liberar quase todos os personagens. Por fim, a nova modalidade, chamada Tower of Lost Souls, é uma seqüência de desafios que serve apenas para conquistar novos itens.
Ainda é importante ressaltar que, mesmo com tanta ênfase na personalização, trazer seus aspectos mais simples para os outros modos de jogo perdeu totalmente a praticidade. Mesmo que você compre novas armas para os heróis, não é possível simplesmente escolhê-las no momento da batalha: você precisa criar uma nova versão do lutador, equipá-lo com aquela arma específica, e depois importá-lo nos outros modos. Tão pertinente quanto fazer Yoshimitsu brincar de pula-pula com a sua espada.E a grande surpresa do jogo, a inclusão de Darth Vader, Yoda e do “Aprendiz”? De um lado, o pai de Luke Skywalker é lento, desengonçado e não compensa isso com força. Do outro, Yoda é terrivelmente fraco, mas nem o mais disciplinado samurai conseguiria acertá-lo com a sua espada – muito menos agarrá-lo. No meio dos dois, o astro de Force Unleashed desponta com combos e magias que fariam inveja a qualquer Kyo Kusanagi ou Sol Badguy. “Totalmente quebrado” é uma definição apropriada. Em qualquer um dos casos, é divertido brincar em uma ou duas partidas, mas a Força não está muito presente aqui.
Assim como em Devil May Cry 4, o novo Soul Calibur também compensa a falta de Conquistas no PlayStation 3. Ao invés de conquistar pontos na comunidade Live, os usuários do console da Sony ganham “Honra” depois de completar certos desafios. E tanto um quanto outro serve para destravar novas opções na criação de personagem.
No fim de mais uma cruzada pelas mais poderosas armas do mundo, tudo parece um belíssimo mais do mesmo. Quem gosta de personalização vai se encantar com as possibilidades – ainda mais podendo levar suas criações nas batalhas online – e aqueles que já acompanhavam a saga de perto não vão se decepcionar... mas também não vão se surpreender.
Já é hora de descansar, bravos guerreiros. Vão e voltem somente quando (ou se) conseguirem fazer a próxima batalha tão épica quanto foi a primeira.

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