terça-feira, 9 de setembro de 2008

Spore (PC)





















Recriando a vida no universo

Quando alguém faz jogos que são verdadeiros fenômenos como SimCity e The Sims, você fica de olho para qualquer outro produto que ele esteja fazendo. E Will Wright voou alto com sua próxima proposta: Spore, um game cujo mundo é habitado principalmente por conteúdo gerado pelo consumidor. A idéia é não só inovadora, mas muito ousada - e se nem mesmo Deus conseguiu criar uma criatura perfeita, não será surpresa que o produto dá suas escorregadas no caminho à grandeza.

Recriando a teoria da evolução de Darwin, Spore começa com um organismo unicelular na sopa primordial terrestre. Você começa controlando esse ser em uma espécie de Pac-Man high-tech, escolhendo antes de iniciar a partida se será herbívoro ou carnívoro. Ao encontrar alimento, sua criatura vai coletando DNA. Essa substância curiosa é o dinheiro usado para comprar novos pedaços para seu quebra-cabeça orgânico: você vai encontrando peças como novos modos de locomoção (flagelos, jatos), defesa e ataque (espinhos, soltar veneno dos lados), características gerais (energia) e muito mais.

No começo, Spore parece demasiadamente simples, mas como os seres unicelulares que você criou, a experiência inteira vai evoluindo. Eventualmente você chegará ao ponto em que deve abandonar o mar e ir para terra firme. O game então estuda seus hábitos alimentares e define se você será herbívoro, carnívoro ou onívoro - cada um com suas habilidades e peças próprias. Aqui, a jogabilidade ganha uma terceira dimensão e os controles mudam um pouco, mas a idéia é a mesma: sobreviver e evoluir. Só que agora, além de matar e fagocitar os outros, você pode tentar estabelecer elos através de ações sociais como cantar e dançar. Possivelmente a fase mais interessante do game, a porção da criatura é a que mais abre asas para sua criatividade... mas os resultados são meio decepcionantes. Enquanto o aspecto estético das criaturas é fantástico, as repercussões de jogabilidade são desanimadoramente arbitrárias: é uma soma das peças individuais, sem levar em consideração as inúmeras opções estruturais de colunas e membros que tanto empolgaram fãs enquanto o jogo estava em produção.

A fase tribal que vem logo em seguida novamente estuda seus hábitos anteriores, mas aqui o game começa a tomar uma complexidade assustadora, com inúmeros comandos para controlar a câmera, mais editores e muitas possibilidades. Isso parece como uma qualidade, mas o grosso dos jogadores mais casuais provavelmente vão desistir aqui, ficando confusos com a dificuldade de estabelecer a série de comandos necessária para estabelecer amizade com outras tribos (não será surpresa se a maioria simplesmente decidir partir para guerra direto). Mas aqueles que se dedicarem a entender essa parte deficiente do tutorial serão recompensados com um mini-jogo de estratégia que usa comida como o recurso básico. Por um lado editar as roupas não tem a mesma graça de antes, mas a jogabilidade começa a ficar mais focada. Essa é provavelmente a fase menos interessante de todas, mas abre as portas para a fase final, na qual você você começa a editar prédios e veículos, que recupera o gosto pelo editor e traz muitas possibilidades para as mentes mais criativas - não vamos estragar a surpresa, mas você verá o mesmo processo do início se repetir de um ponto de vista interessante.

Apesar do editor ser muito interessante, um dos elementos mais curiosos de Spore são suas opções de comunidade. O planeta (e eventualmente toda a galáxia) do jogador é populado por criaturas de outros usuários via Internet, fazendo com que cada partida seja única - e existe um sistema bem acessível para "banir" criaturas ofensivas, que são comunicadas ao servidor central para não incomodarem outros. Usando um excelente navegador, jogadores podem conferir seus catálogos e descobrir mais criações de usuários que eles apreciem. E se você quiser compartilhar fotos e vídeos, Spore já é automaticamente ligado ao site oficial e ao YouTube para subir essas mídias sem nunca fechar o game. É interessante notar que o jogo nunca perde seu foco casual: não existe nenhuma punição em morrer ou tomar uma decisão errada e qualquer peça comprada pode ser vendida à preço de custo, fazendo com que tentativa e erro sejam estratégias válidas até você chegar na fase tribal. E mesmo assim não é possível "perder". Junto com os gráficos que não impressionarão frente aos pesos pesados do PC, o game não impressionará o público hardcore.

Mesmo com toda a divulgação que Spore recebeu, é impressionante o número de surpresas que as diversas fases do game guarda, com inúmeros mini-games que vão se somando bem ao todo. Mas no fim das contas os editores - que são as estrelas da experiência - acabam decepcionando pela falta de impacto real na jogabilidade, impedindo que jogadores realmente criativos ganhem qualquer tipo de recompensa fora a fama na comunidade. Como a rejogabilidade depende quase inteiramente disso, o infinito potencial esperado pode não se materializar da forma que muitos esperavam.

Entre o humor bizarro da Maxis, o excelente acabamento da interface e a mecânica única, Spore certamente tem razões de sobra para encantar qualquer um. Mas em uma análise fria como jogo, as deficiências são difíceis de ser ignoradas. Para curtir Spore, é preciso entrar de cabeça aberta e com muita vontade de fazer experiências - mais do que simplesmente ser desafiado.

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